Robert Doisneau (1912-1994) é um daqueles fotógrafos que fizeram da fotografia não uma arte de truques pirotécnicos, mas sim pequenos poemas visuais. Suas narrativas são curtas, singelas, mas profundas, que descrevem o quotidiano simples, efêmero, palpável e real, mas que, por isso mesmo, nos revelam e devolvem nossa condição humana.
Como pessoa e como artista sua timidez, paciência, gentileza e humor foram notórias. Essa fraternidade com o Humano, está explícita em sua vocação para captar com lirismo os gestos comuns das pessoas comuns em situações banais. E disso fazer Arte com A maiúsculo.
Monsieur Doisneau tinha uma cumplicidade enorme com seus fotografados (muitas das fotos foram cuidadosamente dirigidas) e colecionou ao longo da vida instantes e cenas imortalizados em imagens (a maior parte deles nos subúrbios de Paris), sempre com um olhar muito pessoal.
Nisso ele se aproxima de outros poetas que, ao contrário, usaram caneta e papel (e não uma câmera) para falar da vida miúda e das cenas da gente comum.
Como o sempre lembrado Mario Quintana ou Pablo Neruda (e suas odes às coisas mais banais que um poeta poderia inspirar-se para dedicar seus versos, como: cebolas, bicicletas, flores e dicionários).
Conheci o trabalho de Doisneau muito antes de profissionalizar-me na fotografia. E entre tantas fotos de seu vasto acervo que vi em livros, uma em particular me cativou.
A foto em questão (ao lado) revela a alma do poeta por trás das lentes, seu olhar lírico sobre os pequenos momentos da vida. E, ao menos para mim, ela dispensa maiores explicações.
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