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A Fotografia e as memórias afetivas


Natureza. Camboriú, 2019

(Wu Conghan (dir.), de 101 anos, e sua esposa Sognshi, de 103, realizam o sonho de ter uma foto do casamento (Foto: Reuters/China Daily)

Li hoje uma notícia de 2012 que me tocou: após 88 anos casados, um casal de chineses centenários, ele com 101 e ela com 103, se vestiram de noivos e posaram com bengalas para uma foto feita por cortesia de um estúdio da cidade onde vivem, realizando o sonho de tirar uma foto da união.


Para quem, como nós, é um apaixonado por fotografia essa é uma história comovente.

A importância dada ao ato de registro da união pelo simpático casal e sua paciente espera ao longo de quase nove décadas, nos diz muito sobre a importância da fotografia no registro dos nossos ritos de passagem, ajudando-nos na construção de nossas memórias afetivas sobre alguns dos momentos mais significativos de nossas vidas.


Trabalhar com fotografia também é isso (mas não apenas isso): estar presente e participar de momentos muito especiais das pessoas, sejam eles pessoais, familiares ou coletivos. Nesse sentido, o fotógrafo possui uma grande responsabilidade e se torna não apenas uma testemunha ocular dos eventos, como também aquele que irá nos dar uma “versão” dos acontecimentos, pois cada fotógrafo empresta o seu próprio olhar ao capturar uma cena de um certo ângulo, usando essa ou aquela lente, trabalhando com uma determinada combinação de luz e sombras, escolhendo temperaturas de cores mais frias ou quentes, escolhendo cores ou tons de cinza das fotos P&B.


O fotógrafo é um “leitor” das emoções que estamos vivenciando e transmitindo ao posarmos para uma foto. Ele nos dará o registro da cena retratada, mas ela estará filtrada por sua expertise técnica, seu próprio repertório cultural, pessoal e emocional, sua própria visão de mundo.


Por isso a escolha do fotógrafo é tão importante, qualquer que seja o trabalho: se você não possuir afinidade com o modo como ele lê o mundo (e o fotógrafo não possuir afinidade com o tema que está sendo fotografado), o resultado final será apenas o registro sem alma da cena: seja um casal, uma família, um evento social, paisagens urbanas ou naturais, moda, gastronomia, arquitetura ou decoração de um ambiente, o quotidiano de uma comunidade, animais (selvagens ou não), etc.


E a fotografia deve ser (e ela é) mais do que um mero registro de cenas quotidianas que se prestam para que não esqueçamos dos detalhes de cada época vivida. Ela nos ajuda a criar e manter frescas nossas memórias afetivas, ela nos ajuda a recuperar e manter frescos sentimentos vivenciados em determinada época da vida ou lugar.


Essa é a razão porque sempre considerei o fotógrafo o cúmplice na captura de emoções vividas, paisagens vistas, cenários e gestos. Essa cumplicidade, afinidade e sensibilidade é que farão das fotografias entregues memórias pelas quais teremos carinho


E você? Como as fotografias afetam suas memórias afetivas?



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